Branco como o São Cristóvão
- futebolperiferico
- 28 de out. de 2024
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Raridade no mundo do futebol, o São Cristóvão é um dos únicos clubes do mundo que possui apenas um uniforme
Por Renan Campos
O futebol possui suas representações visuais sagradas, o uniforme é uma das mais importantes e representativas para sua torcida e instituição. Sob esse quesito, o tradicional clube do São Cristóvão de Futebol e Regatas tem uma característica ímpar: possui apenas um uniforme, um dos únicos clubes no mundo com esse privilégio histórico.
Atualmente, tornou-se comum no futebol brasileiro imaginar os uniformes de cada time levando sempre em consideração o uniforme titular e o uniforme reserva. Entretanto, na primeira metade do século passado, as regras que se aplicavam aos uniformes dos clubes não requisitavam grandes regulamentações, deixando os clubes livres para improvisarem uniformes alternativos quando fosse necessário.
Com isso, como não haviam clubes cariocas que jogavam com uniformes de cores iguais ou parecidas ao uniforme todo branco do São Cristóvão - vale ressaltar que o uniforme titular do Vasco da Gama tem a camisa preta - não havia necessidade dessa preocupação no clube da Rua Figueira de Melo.
Com o passar do anos, o São Cristóvão seguia sem a necessidade de realizar improvisações, foi se criando uma mística em torno do uniforme branco do time cadete. Sendo reconhecido pela Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) como o único clube com o benefício de possuir apenas o uniforme titular.

Para que a mística da camisa branca do São Cristóvão fosse erguida e, anos depois, reconhecida pela FERJ, o time cadete - apelido do São Cristóvão devido a proximidade com as instalações do Exército - percorreu um longo caminho de conquistas e relevância no cenário do futebol estadual.
Desde 1909, o São Christóvão Athletico Club nasce e desponta no cenário futebolístico da cidade como um clube importante, fazendo boas campanhas e sangrando-se campeão do Campeonato Carioca de 1926 - feito extremamente difícil para uma equipe de menor investimento em um campeonato tão dominado pelos chamados “grandes” - associando o uniforme branco do time do bairro da Zona Norte a glórias.
Em 1948, quando há a unificação do clube focado nos esportes náuticos, Club de Regatas São Christóvão, que existia desde 1898, com o consagrado no mundo do futebol, São Christóvão Athletico Club, funda-se o São Cristóvão de Futebol e Regatas, clube que conhecemos hoje, herdando as glórias, a tradição e a força do uniforme branco. Com a unificação, o clube ganhou mais força e se manteve por um bom período na elite do futebol carioca, mantendo uma imagem de força e de superação que lidera o clube até os dias atuais.

Curiosamente, no estatuto do clube, consta que um uniforme cor de rosa deve ser utilizado para jogos onde a camisa branca não possa ser utilizada, porém esse uniforme raramente foi utilizado. O último campeonato de futebol profissional onde esse uniforme alternativo foi utilizado foi a Copa Yasmin, em 2011.
Em outras oportunidades, seja por campeonatos organizados pela FERJ ou na Copa João Havelange em 2000, única aparição em competições nacionais do clube carioca, foi cumprido o acordo que dava ao São Cristóvão o benefício da utilização de sua histórica camisa branca.

Um episódio interessante que ressalta a grandeza histórica e estética do time cadete, aconteceu na final da Copa do Mundo de 1962, quando o craque brasileiro Mané Garrincha se referiu à Tchecoslováquia - seleção que iria enfrentar na final - como: “São Cristóvão cheio de Paulo Amaral”.
Paulo Amaral era o preparador físico do Brasil à época e foi referenciado pelo atacante brasileiro para ressaltar o vigor físico (e a falta de qualidade técnica) dos adversários; já a menção ao vistoso São Cri-Cri, estava referenciada na estética dos uniformes, pois ambos iam para campo com o uniforme todo branco, o que lembrou o tradicional adversário carioca para Garrincha.
Com o tempo, a história sobre o uniforme foi ganhando contornos que não podemos comprovar, como a ideia de que "se o São Cristóvão enfrentasse o Real Madrid, quem jogaria de branco seria o São Cristóvão”, muito difundida pelos torcedores que frequentam o Estádio Ronaldo Nazário.
Contudo, o respeito à tradição e a mística criada em torno do uniforme branco do São Cristóvão se mantém e contempla a rica história de um dos clubes mais tradicionais do futebol do Rio de Janeiro.
Deus abençoe a camisa branca do TÓVÃO!!